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sexta-feira, 24 de junho de 2011

Reflexões sobre o trabalho corporal dos atores da Companhia Familie Flöz

 Ontem assisti uma peça de teatro no MIT, apresentado no CCBB Brasilia :

Delusio

foto apresentada no site do CCBB sem os creditos


Companhia Familie Flöz.
obra teatral criada por: Paco Gonzalez, Björn Leese, Hajo Schüler, Michael Vogel.
Interpretada por: Paco Gonzalez, Björn Leese, Jesko von den Steinen, Hajo Shüler, Sebastian Kautz.
Direção e espaço cênico: Michael Vogel
Vestuario: Eliseu R. Weide
Mascaras: Hajo Schüler
Desenho de iluminação: Reinhard Hubert
Iluminação: Emilio Valenzuela
Desenho de som: Dirk Schröder
Assistentes de Produção: Gianni Bettucci, Dana Schimidt.


Me impressionou o trabalho corporal dos atores. Sem duvida, cada personagem surge a partir de uma mascara, muito expressiva por sinal, mas que sem a expressividade corporal dos atores seria uma mascara morta. No entanto eles dão vida a cada mascara, e elas se multiplicam com a troca de perucas.

A peça se passa nos bastidores de um teatro! é fantastico a forma a qual o diretor escolhe para despertar o imaginario, dando à cêna além da imagem dos personagens que ali circulam, a possibilidade de criação por meio de sons en off, entradas e saidas dos personagens que transitam pela coxia (frente do palco) e que atuam nas peças que são “vistas” do lado de la. Isso desvela a memoria do que ja foi visto. Então o que é apresentado na cena é o que normalmente fica do lado do avesso do palco.

Inicia com um ator carregando uma mascara composta com um vestido branco, que da a ideia de um ser flutuante, ou um fantasma. A forma a qual ele manipula a cabeça desse personagem/boneco faz com que o boneco se anime de forma tal, que parece ganhar vida.

Na sequência, aproxima-se um e depois outro ator, para se apropriar corporalmente desse personagem/boneco que esta incompleto. Neste momento eles se apropriam corporalmente desse personagem/boneco. A marionete ganha vida através da manipulação de três atores. Isso sim, trata-se de corpo instrumento e apropriação corporal. é bom sublinhar que não considero e não entendo quando se fala de apropriação corporal para pessoas, pois que elas são o proprio corpo.

Bom, esses três atores se apropriam corporalmente do boneco: um manipulando a cabeça (que sustenta o “corpo”), e os outros dois, um a um “entra” no “corpo” da boneca pela manga da camisa, emprestando suas mãos, um do lado direito outro do lado esquerdo. Com essas mãos vivas, a boneca ganha vida e pode agir. Engraçado é que a partir da liberação das mãos (quando o humano desenvolve seus utensilios através dos quais ele passa a ter as mãos livres), é que ele pode se libertar para criar outras coisas. E no caso, quando o boneco vai se constituindo corporalmente, as mãos é a ultima a entrar no corpo do boneco dando-lhe liberdade de ação.

E ai começam as ações. O trabalho corporal dos atores é fantastico! durante toda a peça, o som que surge é em off, não ha palavaras pronunciadas pelos atores, somente expressividade corporal, de uma delicadeza que não remete à mimica caricata. Ao contrario as fibras musculares, os ossos se ajeitam de forma sutil para receber a mascara que determina o tonus muscular, a forma de pisar, a postura para apresentar o personagem que corresponde à mascara, uma forma de capacete que cobre toda a cabeça.

Em dança ja é conhecido o trabalho necessario que o dançarino tem antes de pisar no palco. é preciso ter acuidade corporal par encenar. Embora atualmente no Brasil, o que venho percebendo, baseado em algumas peças de dança que assisti depois do meu longo periodo em Paris, é que os “dançarinos” se transformam da noite para o dia em “interpretes-criadores” ou “performer”, nome que alias acho péssimo para designar o dançarino-criador da contemporânea. Trato deste assunto em alguns textos que publicarei futuramente, a medida que for traduzindo as 406 paginas da minha tese de doutorado, escrita em francês.

Mas o que eu quero sublinhar é a acuidade corporal apresentada por esses atores da companhia Familie Flöz. E exatamente é essa acuidade que possibilita o sonho, pois que eles não emitem nenhuma palavra, expressam-se apenas corporalmente, sem que essa expressão seja caricatural. São expressões de postura corporal e movimentos codificados, mas muito expressivos. Com isso quero dizer que a dança contemporânea, por sua vez, vem perdendo esse quesito da expressividade corporal, quando insiste em tratar o corpo de forma Platônica, ou seja, quando tentam negar a corporeidade para não se identificar com carne, mas como seres intelectuais.. como se o intelecto não fosse integrante corporal! A dança contemporânea, perde por querer exprimir apenas o corpo deprimido, sofrido.

Vamos la gente, vamos dançar! 

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