“... os factos não
se passam como são contados, é impossível qualquer descrição
verbal relembrar ou explicar acontecimentos orgânicos. Nem as
imagens o conseguem. (…) ainda não temos ciência que perceba o
que aconteceu. Só o próprio pressuposto da ciência a destrói,
logo no início: essa ideia absurda, ainda não totalmente
ridicularizada, de a ciência ser universal, de ser entendida por
todos os indivíduos de igual forma. Essa mesquinhez das causas e
efeitos, dos agrupamentos numéricos, da concentração de
explicações de acontecimentos que ficam reduzidos a números e
letras. Funde-se uma série de factos individuais e irrepetíveis
numa fórmula e oferece-se esta ao mundo inteiro, dizendo: aqui está
o que aconteceu a um homem num ceto instante e num determinado
local...” Gonçalo M. Tavares